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ANIVERSÁRIO DA MINHA MÃE...



Hoje, 15 de janeiro, é o aniversário da minha mãe. Ela se chamava Cinira e meu avô colocou esse nome nela, tirado de uma história de um livro didático. Se ela fosse viva, faria 88 anos, mas, infelizmente, morreu aos 67 anos, em 02/11/1990, de uma hérnia estrangulada, não detectada a tempo pelos médicos, o que a fez ter infecção generalizada e morrer após 3 dias no hospital. Morreu na UTI, mas lúcida e falando comigo, mesmo entubada. 

Aos 25 anos, na Rua Nova, no Recife.

 Minha mãe era baixinha, media só 1,51cm e gordinha, isso depois de casar e ficar grávida, pois solteira, pesava 40kg e tinha um corpinho e umas pernas de dar inveja (vejam a foto), mas pensem numa baixinha e gordinha valente! Enfrentava qualquer marmanjo de 1,90cm sem pestanejar. Uma vez, ela enfrentou o marido de uma vizinha, um cabra grande, forte, esquizofrênico, que queria matar a mulher numa das crises, porque ela pulou o muro e se abrigou na minha casa com medo dele. Mamãe o pôs para correr!

Quando o meu tio Luís, irmão dela, que era militar da Aeronáutica, matou a mulher por acidente, comprovado perante o Juiz pela própria mãe da mulher dele, mamãe enfrentou o delegado que levou o meu tio preso, por não ter chamado a Aeronáutica para levá-lo, o que é o procedimento correto para os militares. Depois de ouvir cobras e lagartos da minha mãe, o delegado não teve outra alternativa, senão cumprir a obrigação dele.

Mas a mulher braba era um doce de criatura. Alegre, prestativa, amiga, sempre pronta a ajudar quem precisasse. Duvido alguém chegar à nossa porta pedindo uma esmola para ela negar. Nunca! E falava pelos cotovelos!

E que mãe incrível ela foi para o seu casal de filhotes. Nunca deixou de comemorar nossos aniversários. Ela mesma fazia o bolo confeitado e todos os docinhos e salgadinhos. Lembro de um piano que ela fez para mim. Mandou papai encomendar uma bandeja em forma de piano de cauda e fez tudo direitinho, sem nunca ter feito um curso de confeitaria. E ficava até altas horas da noite preparando tudo para a festa.

Também fazia aniversários e casamentos das minhas bonecas e das minhas amigas. Sentava horas à máquina de costura fazendo roupinhas para as minhas bonecas. Ensinava nossos deveres e ia a todas as reuniões da escola. Quando já estava no ginasial, que hoje deve ser o equivalente ao primeiro grau, ela deixava o meu irmão, que não gostava de estudar, na porta do colégio. Ele entrava e depois que ela ia embora, ele fugia para ir foguetear (que termo mais antigo!) com os amigos. Isso ela descobriu depois, mas cumpria a obrigação de mãe levando-o até à porta da escola.


Uma vez ela me deu uma lição que jamais esqueci. Quando eu estava no jardim da infância, com uns cinco anos de idade, um dia cheguei em casa com um vestidinho de boneca trancado na mão. Lembro como se fosse hoje que era um vestidinho amarelinho com flores miúdas que eu levei das bonecas da escola para vestir nas minhas em casa. Quando ela viu o vestido na minha mão e eu confessei de onde tinha tirado, ela me levou de volta para a escola e me fez devolver o vestido para a professora e pedir desculpas pelo meu erro. Bela lição!

Mas era muito mole comigo e meu irmão. Quando fazíamos as coisas erradas em casa ela dizia sempre: “quando seu pai chegar eu vou dizer”. Não era essa a forma correta de educar. Devia corrigir a gente, como ela fez com a história do vestidinho da boneca, na hora! Meu pai que é calmo, mas fica brabo se pisar nos calos dele, chegava em casa cansado, com fome e ouvia mamãe buzinando nossas traquinagens no ouvido dele e não dava outra: tome lapada de cinturão na gente! Meu irmão, que era muito danado, apanhou que só!

E sempre foi uma mulher dedicada ao meu pai, que era e é uma pessoa muito decente. Eles brigavam porque ela tinha gênio forte e falava o que lhe vinha à cabeça, mas nunca os vi brigar por ciúmes, pois meu pai nunca deu motivos a ela para isso.


Ele trabalhava como contínuo no Banco Lar Brasileiro, nós morávamos longe e éramos muito pobres. O fogão da nossa casa era de barro, à carvão, mas nunca meu pai chegou em casa na hora do almoço para não encontrar a comida pronta, para que ele pudesse voltar a tempo para o trabalho. E era uma ótima cozinheira! Adorava cozinhar e inventava comidas para o nosso deleite.

Era um pouco hipocondríaca, mas melhor assim que ser como papai, que nunca diz o que sente e já passou por situações difíceis por causa disso.


E eu tenho grandes amigos em SP e em outros lugares, que se hospedaram algumas vezes na minha casa (tudo isso no Recife). Ela dizia que não ia paparicar ninguém, que não ia fazer nada, mas quando eles chegavam, ela os tratava a pão-de-ló. Taí Pepê, um grande e querido amigo de SP, há 33 anos, que o diga! Ele a chamava de Cinirinha e chama meu pai de Dema (Ademar).

E eu nunca tive segredos para ela. Contava dos meus namorados, dos problemas no trabalho, na faculdade e nunca menti, até porque mentira tem pernas curtas e a coisa que tenho mais medo na vida é ser pega em uma mentira.
 
Já faz 20 anos que minha mãe morreu, mas parece que foi ontem. Tenho muitas saudades dela, principalmente por não estar aqui quando nós temos uma qualidade e um padrão de vida melhor e por termos voltado para João Pessoa, cidade onde ela criou-se (era pernambucana de Vitória de Santo Antão) e de onde saiu em 1953, só tendo voltado a passeio, para visitar a família.


Onde ela estiver, sei que vela por nós e dei graças por ela ter morrido antes de ver o suicídio do meu irmão, fato que poderia tê-la matado, já que tinha problemas cardíacos.

Saudades de você, mamãe, muitas...

Fátima Vieira

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