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PRESENTE DE DOMINGO...

Rua do Recife - Imagem Google

CHUVAS DO RECIFE

João Cabral de Melo Neto

Sei que a chuva não quebra osso,
que há defesas contra seu soco.
Mas sob a chuva tropical
me sinto ante o Juízo Final.
em que não creio mas me volta
como o descreviam na escola:
mesmo se ela cai sem trovão,
demótica em sua expressão.

No Recife, se a chuva chove,
a chuva é a desculpa mais nobre
para não se ir, não se fazer,
para trancar-se no não ser.
Mais que em cordas é chuva em sabres
que aprisiona o dia em grades
e mesmo quem tenha gazuas
da grade viva, evita a rua.

A chuva nem sempre é polícia,
fechando o mundo em grades frias:
há certas chuvas aguaceiras
que não caem em grades, linheiras:
se chovem sem qualquer estilo,
se chovem montanhas, sem ritos.
São chuvas que dão cheias, trombas,
em vez de cadeia dão bombas.

Há no Recife outra chuva
(embora rara) rala, miúda.
Não como a chuva da chuvarada,
que cai, agride, e é pedra de água
passa em peneiras essa chuva,
não traz balas, não tranca ruas:
mas faz também ficar em casa,
quem pode, antevivendo o nada.



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